AOS 37 ANOS, A MILITAR DA GNR SAGROU-SE CAMPEÃ NACIONAL DE SKYRACE
Mary Vieira, uma campeã do trabalho
É militar, já foi operário numa fábrica de confeções e é senhora de uma ética de trabalho e uma paixão pela corrida que desafia todas as dificuldades.
O percurso desportivo de Mary Vieira, Campeã Nacional de Skyrace 2019, não é a típica história da menina que adorava correr desde pequenina e que, por isso, se inscreveu no clube da terra e chegou a ser campeã. Longe disso.
O título nacional de Skyrace conquistado no Ultra Trail de Cerveira ou a subsequente chamada à Seleção Nacional que disputou o Europeu de Skyrace foram o auge da carreira de uma atleta que, na verdade nunca fez da corrida...carreira. Antes o fez por uma paixão que desabrochou tarde e inesperadamente.
“Comecei a correr em 2005, quando ingressei no exército, com 23 anos. Não tinha qualquer base desportiva nem tinha feito qualquer exercício estruturado antes do exército. Não dava, pois saí da escola muito cedo para trabalhar numa fábrica de confeções”, conta Marisa “Mary” Vieira, agora com 37 anos e militar de carreira da GNR, recordando uma juventude humilde em Penafiel.
A corrida surgiu assim como uma necessidade motivada pelo desejo de uma saída profissional mais compensatória pois, confessa, não lhe passava pela cabeça correr“apenas por gosto” : “Não, não tinha sequer curiosidade. O ingresso nas Forças Armadas exigia testes físicos e comecei a correr para passar os testes.”
Assim, o que a empurrou foi um misto de necessidade e o desejo, muito seu, de fazer as coisas bem: “Sempre fui muito aplicada e trabalhadora e queria tirar uma boa nota nos testes. Mas a verdade é que gostei logo de início da sensação de correr. Treinava na hora de exercício do trabalho e após o trabalho também ia correr. Mas apenas por gosto, não me passava pela cabeça competir.”
Mas a verdade é que a competição aconteceu. No Skyrunning mas também até no Exército, conforma conta: “Acabei de regressar dos Jogos Mundiais Militares, mas por carolice. Treino sempre no meu tempo livre, nunca me deram tempo para treinar no horário de trabalho, isto apesar de estar a representar as Forças Armadas Portuguesas numa competição internacional.”
Quanto à sua relação com o Skyrunning, Mary Vieira é sincera e vai dizendo que gosta “é de correr” e não tanto da parte técnica: “O meu problema nem são as subidas, mas as descidas, que são muito perigosas. Tenho sempre um bocado de medo pois se me lesiono tenho de faltar ao trabalho e isso faz-nos pensar um bocadinho nos riscos.”
Acerca da sua experiência no recente Europeu, Vieira vai dizendo que lhe “abiu os olhos” para o skyrunning ao mais alto nível.“Acho que em Portugal Continental o skyrunning se confunde um pouco com o trail mas quando cheguei ao Europeu percebi o que é mesmo Sky. Talvez na Madeira tenhamos o mesmo nível de dificuldade, mas no Continente é sempre complicado treinar para aquele nível. Mas gostei muito da experiência e o grupo era muito giro e unido.”
A propósito do próximo ano, a campeã nacional não tem dúvidas:“Se tiver hipótese, tudo farei para revalidar o título, teria muito gosto nisso.”